Ana Rosa, personagem de Mastigando Humanos. O Jacaré nutre por ela(e) e por seu Yakisoba, grande afeto.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Resenha do livro: Segredos Públicos: Os blogs de mulheres no Brasil; Luiza Lobo

Luiza Lobo é ensaísta, cronista, contista, poeta, tradutora e professora de graduação e de pós-graduação de Teoria Literária e Literatura Comparada do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre sua vasta produção, tanto no campo da ficção quanto no que se refere à pesquisa científica, destacam-se os estudos voltados para a figura feminina, tanto em sua expressão na literatura quanto na Cultura. Tal recorte, presente em diversos ensaios, artigos e ficções da autora, levaram a Editora Rocco a lhe fazer um convite: a proposta seria analisar a relação entre o fenômeno dos blogs, ferramenta através da qual qualquer indivíduo pode publicar na Web, e a escritura, bem como a própria posição social da mulher na blogosfera.
Segredos Públicos: Os blogs de mulheres no Brasil é fruto da investigação de Lobo acerca das questões levantadas na observação e análise do comportamento feminino na blogosfera. O estudo lança mão do recorte da escrita feminina para uma profícua comparação dos blogs contemporâneos com os antigos diários íntimos escritos por mulheres.
O terreno em que Lobo instala sua análise é fértil por dois motivos: Primeiramente, por abordar um diferencial do contexto contemporâneo, que são as novíssimas mídias, o uso quase vital da internet, a quantidade de conteúdo e a velocidade em que se tem acesso à informação, a democratização do compartilhamento de arquivos e principalmente o hibridismo entre público e privado que se instala com o boom das páginas pessoais-interativas na web a partir do fim do século XX. Nestes termos, a análise estaria direcionada à abordagem não só de uma reconfiguração dos meios de expressão, mas também de uma noção de sujeito contemporâneo.
Seguramente, o segundo motivo está sujeito ao prisma de leitura que se dá ao estudo de Lobo, por ser este, como define a própria autora, de caráter literário, social, “com pé” na filosofia, ontologia e existencialismo. Em referência à proposta inicial do livro, no entanto, o segundo motivo da “fertilidade” da análise de Lobo seria justamente o lugar de fala feminino, sobre o qual a autora disserta, tanto no que diz respeito aos blogs quanto no que diz respeito à história, cultura e sociedade. A interface com as questões externas à teoria literária é inevitável no estudo que propõe Lobo, uma vez que as mudanças histórico-sociais-psicológicas por que passou a figuração feminina na sociedade ocidental funcionaram, no livro, como suporte de análise do sujeito que escrevia diários íntimos a partir da renascença e do sujeito que escreve blogs nos séculos XX e XXI.
Apesar de parecer fincar seu discurso num recorte específico – mulheres que escreviam diários íntimos nos séculos que, a partir do XVII, antecedem o XXI e o comportamento feminino na blogsfera – Segredos Públicos acaba sendo preenchido por generalizações, uma limitancia feminista por vezes exagerada e por diversas contradições da teoria literária que se apresentam no livro sobre os mesmos tópicos.
Lobo integra a concepção do cibespaço como um espaço democrático e plural, onde todo individuo que se identifique, ou não, tem seu espaço garantido. No caso da mulher, no entanto, Lobo lança a idéia do blog como um espaço de exposição de desejos íntimos e profundos ou de “contação de casos tipicamente femininos”, como se a mulher ao abandonasse as suas características e levantasse a bandeira destas, agora com mais liberdade, nos blogs. O equívoco desta concepção, que se pode perceber ao longo de todo o texto, pode estar justamente em generalizar o que é a essência feminina e fazer uso do histórico da mulher na sociedade machista como base para tal argumentação. A mulher de que fala Lobo conquistou espaço de fala nos blogs, mas esta fala está seriamente afetada por sentimentalismo, confissão e futilidade. Lobo busca na opressão social as fontes para uma mulher submissa e vitimada, que finalmente deixa seu diário sobre a cama e busca se expressar para o mundo. Parece que a autora não se preocupou em determinar que tipos de blogs ou que facetas expressas em blogs femininos iria priorizar, em como ligar estes blogs à uma determinada corrente do comportamento feminino. Esta não determinação está expressa nas generalizações de Lobo como por exemplo: “Para a mulher, não é que a política não exista como assunto, mas o mundo emocional é o mais importante para ela(...)Como veremos, esta é a contribuição da linguagem dos blogs femininos para a internet e para a sociedade em geral”(LOBO, 2007, P. 47). Em afirmações como esta e na própria expressão “a mulher” seguida de uma classificação geral ou “os blogs de mulheres” que também são classificados e adjetivados, o terreno “fértil” em que poderia se instalar a análise de Lobo em relação ao que se propõe como multidisciplinar no seu texto (a ãncora nas relações sociais, históricas e psicológicas da figuração feminina para que se faça ligação com sua atuação nos blogs) no seu texto, ganha um caráter superficial dando a impressão de que elementos demais foram trazidos para o texto e de que por serem muitos para um texto pequeno não foram analisados com devida atenção.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A FICCIONALIZAÇÃO DO AUTOR: SANTIAGO NAZARIAN E SEUS PERSONAGENS-AUTORES



A hipótese norteadora deste trabalho é a de que o autor, depois da sua morte, no final dos anos 60, renasce no contexto da contemporaneidade. Consideraremos, aqui, a importância das novíssimas mídias, e em especial da Internet, como potencializadoras da exposição de si o que implica, para nossos pressupostos, a ficcionalização do eu, interessando-nos especificamente refletir sobre a construção ficcional da figura do autor.
Cabe, antes de qualquer coisa, traçar um breve percurso sobre o modo como a figura do autor foi compreendida ao longo dos tempos, até que possamos explanar os fatores que cercaram sua recente morte.
Por muito tempo, a autoria sequer era considerada como um conceito ligado à produção artística. Estamos nos referindo aqui às concepções norteadoras do fazer “mimético” na Idade Média, especificamente. O valor atribuído à obra estava ligado diretamente à mais perfeita imitação do mundo existente, sem que fossem reconhecidas criatividade ou originalidade ao responsável pela operação, considerado mero artífice.
Com a revolução burguesa no século XVIII, os mais diversos espaços da existência foram reconfigurados. Deixando de ser valorizada como mera imitação, a arte não mais busca a retratação perfeita de objetos pré-existentes, mas constitui-se a partir do olhar subjetivo de seu autor, de suas vivências particulares. Nesse contexto, a figura do autor se levanta com toda força, realçando seu “eu”.
A partir desse momento os olhares concentram-se sobre a figura do autor, entendido como origem da criação, figura que pode ser entendida como fonte de toda explicação. À medida em que o século XX avança, as coisas começam a mudar. A teoria literária enfatiza a importância da linguagem artística autônoma e isso implica a revisão dos laços que envolvem a obra e suas explicações baseadas na biografia, diminuindo a importância dos elementos externos à letra do texto, como defendiam, por exemplo, os formalistas russos.
Mas o golpe mais duro contra o império do autor é dado por Roland Barthes, em seu ensaio A morte do autor. Aí, o crítico francês atesta sua discordância em relação à figura autoral como fonte da criação literária, responsável absoluto por seu surgimento e manutenção:
“a imagem da literatura que podemos encontrar na cultura corrente é tiranicamente centrada no autor, na sua pessoa, na sua história, nos seus gostos, nas suas paixões; (...) a explicação da obra é sempre procurada do lado de quem a produziu, como se, através da alegoria mais ou menos transparente da ficção, fosse sempre afinal a voz de uma só e mesma pessoa, o autor, que nos entregasse a sua confidência.”(BARTHES;1968, p. ?)

Por negar veeementemente a opressão dessa figura que atua como uma sombra sobre a obra e, por tabela, sobre o leitor, a solução de Barthes é radical, pois sugere a morte do autor. Pensando no momento atual, se quiséssemos ler ao pé da letra a citação de Barthes diríamos que a tentativa dramática do crítico francês foi em vão, pois o cenário contemporâneo é muito semelhante ao do final da década de 60.
Neste trabalho gostaríamos de arriscar que apesar do decreto de sua morte, o autor continua vivo e pode emergir como problema teórico principalmente se investigamos os diversos processos de reconfigurações de seu ressurgimento a partir de sua circulação nas novíssimas mídias e redes sociais - principalmente no ambiente virtual (blogs, myspaces, orkut e twitter).
Nossa hipótese é que a internet se configura como espaço potencializador de uma criação/invenção de si, o que no caso específico da figura autoral, se traduziria como uma ficcionalização da própria figura de autor. Aqui, gostaríamos de observar ainda um tipo de “jogo” provocado por uma ficcionalização de si funcionando em consonância com as expressões autoficcionais na obra ficcional, analisando a construção de personagens-autores.
Para testar minha hipótese, gostaria de tomar como objeto de análise nesse trabalho a construção da persona autoral de Santiago Nazarian. Meu procedimento básico diz respeito à investigação sobre as formas de invenção do “eu autor” de que Santiago Nazarian lança mão nos espaços virtuais em que escreve e se publica para tentar efetuar uma comparação com a atuação de personagens que são escritores em um de seus romances já publicados, Mastigando Humanos.
Antes de passarmos à análise propriamente dita, torna-se importante fazer uma abordagem introdutória para entender-se de que “espaços virtuais” se fala aqui, quais seus mecanismos de funcionamento, a fim de estabelecer uma relação com o que entendemos como uma reviravolta da subjetividade, uma hipertrofia da exposição de si que transforma a vida íntima em espetáculo. Portanto apostamos que “o impacto da internet sobre o ‘espaço biográfico’ (cf.Arfuch) se faz sentir na abertura à existência virtual, às invenções de si, aos jogos identitários, propícios à fantasia da autocriação e ao desenvolvimento de redes inusitadas de interlocução e sociabilidade” (VIEGAS, 2007, p. 23)

O que se observa é que nos blogs, os antigos diários íntimos encontram seus correspondentes “éxtimos”, conforme o trocadilho com a palavra íntimo, proposto por Paula Sibilia (2008). No ciberespaço o público e o privado estão diluídos, já que o íntimo nunca foi tão público ou o público nunca foi tão íntimo. Se antes o diário íntimo era escondido a sete chaves, o que a rede propicia, hoje, é “la vie nue”, a superexposição destes “eus”. Nosso autor contemporâneo pode estar considerando como seu modelo aquela figura de autor entendido como gênio, fonte de surtos de inspiração, oriundos de sua profundidade interior, que abria o coração para se confessar, e que levou Barthes ao gesto radical de condená-lo à morte. No entanto, apostamos que o autor contemporâneo não atua simplesmente para imitá-lo, pois minha suposição é que as condições de sua exposição estão submetidas a uma condição diferenciadora: nosso autor romântico tencionava confessar sua história íntima e selava o compromisso com o desejo de ser “verdadeiro”, mas considerando os espaços virtuais, como assegurar tal premissa? Para que nosso argumento ganhe força, importa-nos valorizar uma outra face atrelada ao espaço virtual: no orkut, msn, facebook, as pessoas podem criar para si a imagem que desejam, inventar suas descrições, suas memórias, seus gostos. A instantaneidade dos processos, a ocorrência de um meio aberto para se chegar ao “outro” estimula a exposição da intimidade, que, nos ambientes virtuais, também é inventada. Considerando nosso argumento de que a rede estimula uma ficcionalização de si, pensamos que a rede torna possível mentir, inventar criar outros personagens e outros eus de si mesmo.
Depois de ter sua morte decretada, o autor quer tatuar a si mesmo em sua própria pele, no sentido de que o suporte de expressão e criação deste autor está na invenção de sua própria figura, na construção de uma carreira de escritor. A imagem da tatuagem vale para nosso argumento, menos pela permanência a que costumamos associá-la e mais por representar uma expressão artística no próprio corpo. Nesse sentido, quando falamos aqui em ficcionalização da figura do autor, não estamos pensando na figura 'real' com nome e sobrenome, em seu nome próprio, mas na imagem recriada pelo próprios escritos, em suas obras, entrevistas concedidas, na recepção de sua produção quando se desenha, então, um nome de autor. Aí então, pode ser que se configure uma outra ficção, baseada num efeito-autor, nascido não apenas de uma performance de escritor, mas que também pode estar presente na obra ficcional através da representação de personagens que são autores.
A partir das postagens recentes (últimos três meses) de Santiago Nazarian em seu blog Jardim Bizarro, da pesquisa de sua biografia e da investigação sobre sua emergência como autor no cenário literário contemporâneo, o presente trabalho procederá a uma análise comparativa com seu romance, Mastigando Humanos, a fim de observar a representação de seus personagens escritores.
Nascido em São Paulo, no ano de 1977, Santiago Nazarian, hoje com 32 anos, conta com cinco romances publicados e um livro de contos de sua autoria engatilhado para março de 2011. Além disso, possui contos em antologias, revistas literárias on-line e publicação de contos, micro-contos e crônicas em seu blog Jardim Bizarro (http://santiagonazarian.blogspot.com/)
O blog do autor conta com movimento semanal, postagens de suas impressões sobre as leituras que faz, seu gosto musical e reflexões sobre o sistema literário em geral (comentário às resenhas de seus livros, lançamentos de livros, encontros literários de que participa). O blog de Nazarian não é simplesmente um diário pessoal. Poderíamos, sim, caracterizá-lo como um espaço de divulgação de sua produção ficcional e de construção de sua performance como autor no cenário contemporâneo. Lendo-se os posts podemos conhecer um pouco da trajetória da “Vida de autor”:
“[...]dia desses uma dessas revistas customizadas me encomendou uma crônica... uma crônica sobre meu avô; "saudades do meu avô", era o tema. Eu não tenho exatamente saudades do meu, mas como escritor faz de tudo, remexi o que lembrava...
Não foi exatamente o que a revista queria. Disseram que ia um pouco contra o "espírito de bem com a vida" deles, não iam publicar, mas agradeceram e prometeram me pagar. Muito bem. Afinal, por que uma revista "de bem com a vida" me procurou em primeiro lugar? É como ir numa churrascaria quando se quer comer sushi. Pode até se encontrar no buffet, mas não é o mais recomendado... [...]” (http://santiagonazarian.blogspot.com/;)
Neste comentário, percebe-se que Nazarian, através de um relato sobre o seu cotidiano de autor, chama a atenção para o caráter de sua escrita, que, como ele próprio sustenta desde o inicio de suas postagens, é uma escrita com traços soturnos, eróticos, com referências ao gótico e ao beat. Se tomarmos como referência estes traços, podemos observar que o que à primeira vista parece apenas confissão de uma personalidade juvenil realça um perfil de escritor tentando se firmar em um estilo de escrita:
“Ah, está chegando Halloween e agora as crianças brasileiras comemoram. Quando eu era uma criança gótica, tudo o que eu queria era que houvesse Halloween por aqui.(...) Esse lado negro da minha personalidade sempre foi muito presente, mas nunca consegui escrever um livro – ou um conto que seja - de terror.” (http://santiagonazarian.blogspot.com/2004)
As duas postagens revelam uma preocupação em criar uma identidade, uma marca autoral.
O blog de Santiago Nazarian comporta, hoje, muita fotografia e diários de viagens do autor, entrevistas, relatos de lançamentos e mesas redondas, tudo ligado à construção de sua carreira como autor. O espaço virtual funciona como uma máquina de divulgação de sua produção e de sua marca-autor. Ali, encontramos desde de links para assistir a suas entrevistas na televisão, até as resenhas publicadas sobre seus livros. O blog funciona simultaneamente como espaço de invenção de si, construção de uma carreira autoral e também como divulgação de sua produção ficcional. Faz uso deste espaço para atrelar a construção simultânea de uma figura autoral a uma obra em construção. Por isso apostamos no rendimento da análise dos relatos de suas experiências como escritor, que podemos ler no blog, em comparação com os personagens-autores presentes em seus romances.
Em Mastigando Humanos (2010), o protagonista é um Jacaré, cujo pseudônimo é Frank Sinatra e cujo nome verdadeiro só é revelado no final. Frank Sinatra é escritor e narrador da própria história, ou memórias, que ganham o mesmo título do romance que lemos, Mastigando Humanos. No correr destas “memórias” o Jacaré nos “conta” como foi parar nos esgotos de uma cidade grande e como é levar a vida no underground:“Poderia lamentar ter desaguado num esgoto, mas, como todos os jovens sempre quis provar o gosto dos subterrâneos” (p.9). Ou ainda: “Eu queria o ócio do caos urbano. Sabe, o mundo sendo despejado sobre sua cabeça e você só abrindo a boca para receber os melhores pedaços.” (p.102)
Em comentário a seu próprio livro Nazarian frisa o caráter underground / pop do romance:
“A vida nos esgotos das grandes cidades é muito rica. Pode-se conhecer a fundo poesia marginal, cultura underground, alta literatura e ciências biológicas. Não é a toa que nosso jacaré se tornou uma figura prodigiosa. Conheça então seus colegas do submundo.”
(Post do blog; 2006)

Boa parte do romance versa sobre a memória do Jacaré sobre a própria escrita das Memórias, o momento em que decidiu escrevê-las, como gostaria de ser lido e o quanto se considera bom escritor. O percurso narrativo vai construindo assim uma “vida de escritor” que apresenta muitas semelhanças com os impasses, opiniões e desgostos com o metier literário, tal como podemos encontrar nos posts do blog do autor Nazarian. Aí, para ficarmos em apenas um aspecto, também nos deparamos com relatos de insubordinação à academia, acusada de conservadora por não acolher suas “idéias subversivas”, nem sua escrita underground (cf. Santiago Nazarian considera as “mesas redondas tradicionais muito chatas” [blog;2009]) Ou ainda em posts de seu blog:
(...)”minha intenção foi desafiar essas minhas pólices, rigores, que também são um pouco as da literatura brasileira em geral. Afinal, como "jovem escritor" eu tenho obrigação de romper com paradigmas. Comecei vencendo os meus próprios.” (BLOG.2006)

Assim como o Jacaré, narrador do romance, busca a certa altura a opinião de outro jovem escritor, mas já consagrado , a aprovação e o reconhecimento do que escreve, é comum encontrarmos no blog Jardim Bizarro, postagens das datas de lançamentos dos livros de Nazarian e de outros escritores contemporâneos, suas afinidades eletivas, menções diversas a resenhistas e jornalistas culturais que comentam e divulgam sua produção, além da repercussão de suas aparições televisivas em circuitos bem pouco acadêmicos:
“Hoje gravei novamente o Programa do Jô. Vai ao ar hoje mesmo! Então provavelmente você está lendo isso
depois de ver o programa. AGORA COMPRE O LIVRO! MASTIGANDO HUMANOS. Hehehe. Você vai se divertir, tenho certeza, confie em mim, é só 25 pila, fácil de achar, compre o livro. DEPOIS, você pode me mandar um email bem carinhoso. Mas compre o livro antes.” (Blog. 2006)

Os dilemas expressos por Santiago Nazarian em seu blog são, como visto nas passagens acima, purgados pelo Jacaré ficcional. Da mesma forma que Santigo Nazarian explora a construção de sua identidade autoral, inclusive apostando em autoelogios a suas publicações, o Jacaré-escritor tem certeza de que possui originalidade e talento:
“(...) Meu livro não era mais um, não. Eu tinha certeza da qualidade do meu texto. E, além do mais, ele não estava curioso para saber o que um jacaré tinha a dizer?” (p.183).
O autor Nazarian inscreve-se e escreve-se autor lançando mão do ciberespaço que funciona como potencializador para a criação de uma atuação do autor no cenário literário contemporâneo.
Se a Internet é esta máquina de autoinvenções, a marca que Nazarian cria para si, a construção de sua identidade como autor expressa nos posts do blog estão em consonância com uma imagem de autor expressa em sua obra, como tentamos demonstrar brevemente a partir da comparação com as dificuldades encontradas no romance Mastigando Humanos por seu personagem principal, o Frank Sinatra-Jacaré-escritor.













REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BARTHES, R. O Rumor da Língua, S.P. Martins Fontes, 2004.

ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico: dilemas da subjetividade contemporânea, R.J. EDUERJ, 2010

NAZARIAN, Santiago. Mastigando Humanos: Um romance psicodélico, R.J. Nova Fronteira, 2006

SIBILIA, Paula. O show do eu: A intimidade como espetáculo. R.J. Nova Fronteira, 2008

VALLADARES, Henriqueta do Couto Prado. Paisagens ficcionais:Perspectivas entre o eu e o outro. R.J. 7 letras, 2007.


SITES

http://www.santiagonazarian.blogspot.com/

http://www.wikipedia.com.br / http://pt.wikipedia.org/wiki/Santiago_Nazarian

sábado, 11 de setembro de 2010

PARA MENORES DE 18 ANOS: MASTIGAR HUMANOS É COISA DE SANTIAGO NAZARIAN.


Recentemente, li o romance Mastigando Humanos, do autor Santiago Nazarian(Nova Fronteira, 2006).
O romance conta a história de um Jacaré que,em busca de novas perspectivas sai de sua bucólica morada e vai parar nos esgotos de uma cidade grande. Seus melhores amigos; um sapo fumante, um cachorro sardento, uma lata de óleo chamada Santana e uma humana... bem... de estranhos hábitos alimentares - e ele, estão submersos em uma trajetória pelo submundo até que o simpático jacaré se depara com o seu destino de escritor.
Qualquer semelhança com a trajetória de Olívio e seus encontros estranhos num dia sem trabalho, não são mera coincidência.
O que ficou circunscrito para mim foi a ironia que o romance, bem como o O Prèdio, o Tédio e o Menino Cego, carrega na sua própria definição: Literatura Infanto-Juvenil.
Pelo menos ao meu parecer, os romances soam como respostas a uma crítica conservadora, que fez muitas objeções à não maturidade do escritor.
Beatriz Resende, em seu ensaio Santiago Nazarian e suas multiplas identidades, traz, além do dado da crítica, uma reflexão sobre a obra do escritor Lewis Carroll, autor de Alice no País das Maravilhas.(você, acha que esta é uma obra infantil?)
Lendo Mastigando Humanos,a sombria, erótica, turbulenta assinatura nazariana está tão evidente quanto em Olívio ou a Morte sem Nome.
De infanto-juvenil,só as figurações "biotípicas" das personagens, que num outro universo de acontecimentos, poderiam ser consideradas "fofas". Esta reconfiguração, este desvio ds signos, é que dá à obra de Santiago um carater semelhante à obra de Lewis Carroll, que, se lida com direcionamento, demonstra ser ácida e feroz crítica ao contexto da rainha Vitória, na Inglaterra.
Para se deparar com o estranho mundo de assombrações (em compleição e conduta),Alice cai num buraco, direto para um mundo subterrâneo. Também num mundo subterrâneo está Frank Sinatra, o Jacaré, que para contar-nos um mundo também de assombrações (politicas, éticas, de compleição e condutas, ou mais, dos prórios insights), torna-se escritor, como Lorena, Olívio, Lusiânia, Thomas e Santiago Nazarian.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PENSANDO A REPRESENTAÇÃO. NÍVEIS DE APROXIMAÇÃO...


“Em todo o mundo habitado, em todas as épocas e sob todas as circunstâncias, os mitos humanos têm florescido; da mesma forma, esses mitos têm sido a viva inspiração de todos os demais produtos possíveis das atividades do corpo e da mente humanos”
(CAMPBELL, Joseph)


A história nos conta as turbulências e revoluções de cada época. Nos aponta seus mitos, seus heróis, suas falhas e doenças, do corpo e do “espírito”.
Toda época reinventa a filosofia, a “espiritualidade”, como nos diz Susan Sontag, em seu texto A estética do silêncio. A “espiritualidade” em um sentido essencial, de compreensão de mundo, fazer de realidades, e junto com isto, de representações do “espírito” do homem, das significações e das próprias épocas.
Falar em representação nos remete à Arte, que em seu sentido primeiro, atribuído ao filósofo grego Platão, mímesis, quer dizer imitação, representação do mundo das idéias. Durante muitos séculos o fazer artístico remetia a retratar, a descrever e caracterizar o mundo, como em metáfora, uma fotografia.
As concepções Antigas, baseadas nos preceitos platônicos e aristotélicos estão presente em muitas das obras escritas do período a que atribuímos obras de seus contemporâneos àquelas escritas poucos séculos depois.
Consideremos a obra de Homero, Odisséia.
Temos Odisseu, o herói. Ele mesmo nos conta quem é e descreve seu tempo, lugar, apresenta sua história. A história conta com tempo cronológico bem definido, o narrador-personagem está bem descrito (nesse caso, por ele mesmo), define bem os espaços em que se dão as ações e mais, apresenta catarse. Aquilo que Aristóteles consideraria um perfeito exemplo de construção mimética, um bom exemplo de verossimilhança dentro da obra.
Joseph Campbell nos fala sobre a Jornada do Herói, em seu texto O herói de mil faces(Cultrix/Pensamento,1949). Para Campbell, tal jornada está representada pela condição do homem dentro das ações na obra, pelas ações e pensamentos que torneiam o herói dentro de sua aventura. A condição do herói está representada em etapas, descritas por Campbell como: O chamado da aventura; a recusa do chamado; o auxílio sobrenatural; a passagem pelo primeiro limiar; o ventre da baleia; o caminho de provas; o encontro com a deusa; a mulher como tentação; a sintonia com o pai; a apoteose; a benção ultima; a recusa do retorno; a fuga mágica; o resgate com auxílio externo; a passagem pelo limiar do retorno; senhor dos dois mundos; liberdade para viver.
Ora, Odisseu de Homero está perfeitamente encaixado em todas estas fases propostas por Campbell. No entanto, boa parte das obras no período clássico também o estão, como Tristão e Isolda.
A obra Tristão e Isolda é o perfeito exemplo de ilusão referencial. Temos uma história, que nos é contada por um narrador em terceira pessoa, nos descrevendo espaço, personagens, ações. O trecho destacado, no qual apreciamos a figura de Marcos, descrito bem de acordo com aquilo que Campbell propõe, nos dá a perfeita idéia de um quadro, com tudo encaixado como de acordo para representar o real, criando, no entanto, espaços, pessoas e situações fictícios. O narrador nos “pinta” Marcos, nos explicita sua personalidade e história, cria o herói, o dono da jornada.
Todo este formato, apresentado tanto em Odisséia quanto em Tristão e Isolda é facilmente percebido e a posição do herói, do “espírito” do homem neste contexto, facilmente detectado.
No trecho da obra de Santo Agostinho, no entanto, nos deparamos com um fluxo de consciência mais “personalizado”. Nos enxergamos com mais força (nós espectadores).
Por que?
A relação filosófica e metafísica em destaque nesta obra é muito forte. Santo Agostinho, de repente, não está nos contando uma “história”, não está caracterizando nenhuma personagem, nem descrevendo nenhum espaço ou tempo. Apresenta um fluxo de consciência, uma expressão interior. Caracteriza sim, o Ser Humano, suas dúvidas, seus questionamentos e sua relação com o metafísico, mas não o faz contando uma seqüência de ações, não cria uma personagem para espelhar.
Encontramos a meta-representação, descrita por Foucault?
Não, pois Santo Agostinho “pinta” na realidade um auto-retrato, apresenta na verdade facetas do espírito humano, do próprio espírito. Neste período a arte ainda não tinha tanta autonomia, e ainda que seja uma representação do íntimo, é uma representação, ainda assim não somos capazes de enxergar os Ardis do artista.
Aquilo que caracteriza a obra de Santo Agostinho, Tristão e Isolda e Odisséia é o conceito baseado na filosofia grega que perdurará por todo o renascimento, fase esta em que filósofos, artistas e intelectuais estavam interessados em “desencavar” as idéias dos grandes filósofos do mundo ocidental, a fim de afastar a nuvem negra que se estabelecera à era medieval.
Isto a que chamamos de ilusão referencial está diretamente ligado aos conceitos da mímesis. A função da arte, então, é representar, retratar, descrever. Os mecanismos em nada interessam, pois é arte aquilo que melhor consegue representar o mundo exterior e interior, o espírito e estética humanos.
No período compreendido entre os séculos XVII e XVIII, nos deparamos com um momento de transitoriedade do fazer artístico representacional, incluindo a literatura.
Nos trechos das obras de Henry Fielding e Goethe, percebemos fatores novos em relação ao clássico, algo que talvez chegue perto do que Foucault entenderia como meta-representação.
Em ambos os trechos o tempo não é bem definido cronologicamente, nem encontramos ações bem descritas, ou catarse. A personagem fala de si mesma, dos próprios sentimentos, sem se caracterizar demais, ou se colocar na condição de representação do espírito humano. A relação com o espectador se torna mais próxima, visto que “entramos” no pensamento da personagem.
No quadro Las meninas, analisado pelo próprio Foucault, vemos um homem à direita e ao fundo, que tudo vê, permanecendo, porém, com um pé para dentro e o outro para fora da sala em que se dão as ações no quadro. Seria esta a representação de uma transitoriedade dos papéis estabelecidos nas obras ao longo dos séculos, em que quase alcançamos os ardis de que se utilizam os autores, mas ainda estamos atados a muitos dos laços da narrativa clássica (sendo o maior de todos o fato de conceber a arte como mera representação, dependente de um universo ficcional).
Tanto Fielding quanto Goethe nos descrevem sentires e ocasiões, pessoas e seus atributos, mas quem nos fala são as personagens. Não existe diálogo direto. Em Fielding ainda nos deparamos com um narrador em terceira pessoa.
Sobre este período transitório podemos dizer que se percebe tênue a intenção do autor, mas como fez Velásquez, este não se pinta pintando a obra que pinta. A arte literária vem mostrar traços de autonomia mais adiante.
Com o “boom” estruturalista(séculoXX), o fazer da palavra tomou para si mais importância até que suas significações. Todas as noções de estranhamento e de autonomia que criavam naquele momento viriam a contribuir para o conceito de meta-representação, que busca Foucault.
Em um trecho da obra de James Joyce, Ulisses, nos deparamos com um fluxo de consciência que poderia ser tomado como o mesmo tipo de fluxo que tem Santo Agostinho. No entanto, existindo ou não história, personagem, herói e jornada, o fazer da palavra se mostra num estado novo, completamente estranho.
O trabalho com a linguagem é diferenciado para provocar efeito, não apenas da história pela história, leva-se em consideração e acopla-se às suas noções de intensidade e qualidade como narrativa, os instrumentos através dos quais ela fora realizada.
Neste sentido, alcançamos o autor. A palavra é enxergada, por trás da representação pura e simples.
O maior traço distintivo entre os Ulisses (lembrando que a obra de Joyce também se refere a uma “odisséia”. A da vida de um homem em 24 horas) se dá justamente nesse caráter mais intrínseco de caracterização das personagens. As palavras, de acordo com as tendências modernas, tomam para si funções diferenciadas, caráter mais independente, são capazes de interagir por si com o espectador.
Um tipo de diálogo ainda mais profundo com o fazer da obra se dá em Confissões de Ralfo, de Sérgio Sant’Anna.
O homem que nos vai “contar a história”, também nos revela os instrumentos de que se valerá para tanto. Nos revela uma intencional “abordagem fantasiosa” na história da própria vida, que ele irá contar. Como Velásquez, se pinta pintando o quadro que pinta. Torna a si próprio um mito, desmascara a construção da ficção, a construção do herói de Campbell.Nos diz: “veja, estou criando uma ficção, um herói e sua jornada, e é assim que o irei fazer”.
Este é o caráter do efeito do real, que não está mais preocupado como a ficção perfeita e enquadrada, mas sim com uma aproximação maior do real, através dos instrumentos usados para produzir ficção.
“Isto é assim e eu te mostro como se faz”.
Para Susan Sontag “Isto nos leva então à eliminação do ‘tema’ (do ‘objeto’, da ‘imagem’), à substituição da intenção pelo caso e à busca pelo silencio”.










Referências bibliográficas:

SONTAG,Susan; A vontade Radical;R.J. ed.2. Escrituras. 1966.
CAMPBELL, Joseph; O herói de mil faces; S.P.Cultrix/Pensamento.ed.14.2006.
FOUCAULT, Michel; As palavras e as coisas.
O Santiago deu uma entrevista à revista Off-line, que eu gostaria que tivesse sido dada a mim, em que, pelo menos pra mim, ele reflete bastante da postura do autor diante dos enfrentamentos teóricos que vem sofrendo.
Enjoy It





ENTREVISTA-ENXAQUECA

Que aspectos de sua literatura você considera que o inscrevem em nosso tempo? Há similitudes entre sua literatura e a produção de outros autores da mesma geração que a sua capazes de configurar alguma proximidade ou diálogo?

Isso é impossível de eu identificar. Vivo em nosso tempo, escrevo em nosso tempo, mas não estou preocupado especificamente em falar deste tempo ou negá-lo; então identificar os traços do nosso tempo na minha literatura não é apenas uma tarefa para outros, como para ser feita no futuro. O mesmo em relação a essa comparação, proximidade ou diálogo com autores da minha geração – posso dizer que a mim me interessa mais a diferença (se não posso falar de “exclusividade”), mas é claro que é inevitável que surjam traços e temas comuns na literatura de quem está produzindo hoje, de quem cresceu na mesma época, vendo os mesmos programas de TV, as mesmas leituras obrigatórias na escola. Acho que é isso, não é uma questão que eu possa responder…

A exemplo do que alguns críticos chamaram de geração 90 e de outras escolas do passado, você acredita que faça parte de algo como uma geração 2000 ou de um trabalho literário que tenha, além de suas singularidades marcantes, também algo de coletivo ou transversal? Se isso existe, como se deveria denominar a sua geração?

Não. A geração 90 foi um nome não apenas adotado pelos críticos, mas pelos próprios escritores que se encontravam, discutiam e acabaram gerando algumas publicações, como as antologias organizadas pelo Nelson de Oliveira e a revista PS:SP, do Marcelino Freire. Posso estar errado, mas a mim parece que essa geração tinha, se não um plano literário comum, pelo menos um relacionamento afetivo mais próximo, formavam uma turma. Isso sem falar em outros movimentos anteriores. A minha geração não passou por isso. Tenho uma relação diplomática, cordial, e até carinhosa com alguns escritores de idade próxima da minha, mas nos encontramos apenas esporadicamente, por acaso, em eventos literários. Então, não há trabalho coletivo – e para mim parece muito natural e saudável; para mim, o grande prazer da literatura é essa independência de uma arte individual, se eu quisesse fazer algo coletivo faria cinema, ou música, ou teatro. O que existe de comum, novamente, é espontâneo e eu não poderia localizar. Formamos uma geração – Geração Zero Zero, que seja – pela idade e por traços comuns não planejados.


Muitos sectários, incluindo críticos e jornalista, ficaram congelados nos autores pré-anos 60, especialmente no que se convencionou chamar de modernismo, e afirmaram não encontrar nada de novo no que se produziu nas décadas subsequentes. No entanto, muita coisa inegavelmente surgiu de lá pra cá. Quais são as principais características dessa nova literatura contemporânea brasileira? O que há de peculiar nela? Em sua análise, que autores renovaram, de alguma forma, a literatura brasileira nos últimos 20 anos? Quem está renovando agora?

Ah… Novamente, não é uma pergunta que eu possa responder. Mas talvez a grande mudança pela qual a literatura tenha passado dos anos 80 para cá seja o estreitamento com a cultura pop – a apropriação de referências da “cultura de massa” em universos genuinamente literários. Depois dos anos 2000, quando o conceito de cultura de massa foi relativizado, talvez tenha havido uma maior “universalização fragmentada” dos temas e realidades retratados. A literatura deixou de espelhar especificamente nosso país, passou a focar universos próprios, individuais, que podem ecoar num leitor da Noruega ou causar um grande estranhamento num leitor argentino.

Em suas descobertas como leitor e autor, quem são os autores estreantes que mais vem lhe chamaram a atenção recentemente, mesmo que sejam promessas? Você poderia nos indicar alguns nomes entre primeiros livros, blogueiros ou contatos diretos com jovens talentos? Há algo vindo das universidades?

Há um jovem poeta e contista paulistano chamado Hugo Guimarães, que tem uma força espontânea e transgressora impressionante. Uma romancista carioca, Victoria Saramago, que está se tornando uma grande narradora. E Christiano Aguiar, um jovem literato do Recife que tem uma produção bem interessante.

De alguma forma você acha que os nomes mais estabelecidos devem ajudar a iniciar ou descobrir esses potenciais novos autores?

Não. Já é tão difícil para um autor encontrar leitores, encontrar outros autores é um extra, não um dever ou uma necessidade.

Em que medida as plataformas digitais e a Internet afetaram a produção literária? Confundem-se, nas discussões, as questões o futuro da literatura e o futuro do livro, como objeto material. O que você pensa sobre esses temas?

O livro é apenas um veículo, e sua sobrevivência é uma preocupação para as editoras. Eu escrevo, gosto do objeto livro, mas se ele morrer, estarei publicando em e-books, na tela, ou o que seja. De qualquer forma, acho que o boom da Internet modificou mais os temas literários do que os suporte. Os autores tiveram espaço e puderam concentrar-se em universos mais particulares, como eu já disse, e foi basicamente isso. A Internet não modificou tanto o texto literário em si, a forma da escrita e o formato dos livros. E se a escrita não é alterada com isso, não devemos nos preocupar com o futuro, morte ou sobrevida do livro. Isso é para os fabricantes de papel.

(entrevista para a revista Off-line: http://www.offline.com.br/blog/?p=882http://www.offline.com.br/blog/?p=882 -

sábado, 31 de julho de 2010

Objeto de pesquisa

Vou postar sempre aqui minhas impressões sobre livros que leio, mas dedico maior atenção aos livros do Santiago Nazarian, autor que estudo. Confiram aí a propagandinha que fiz no Facebook de seu primeiro romance: Olívio.

Romantismo-absurdo: definição do próprio Santiago Nazarian, jovem autor deste livro, seu primeiro romance publicado. Olivio é o dia de Olívio. Mais que um relato, um mergulho na cabeça de um jovem "de vida comum" e suas relações, que em de...nsa teia de ligações, transformam "um" dia em "o" dia para O PROTAGONISTA. O rapaz, engatilhado por sua dor de cotovelo causada pela amada Rosalina, embarca em pensamentos e ações nada cotidianas,ou as torna pouquíssimo convencionais. Eu diria que Olivio é a expressão dos desejos bizarros ou de simples impulso pela liberdade que todos nós sentimos um dia...Vontade de largar tudo...
Destaco o humor ácido, os toques de surrealismo e o erotismo evidente desde a primeira frase do livro.
PARÁGRAFO PRIMEIRO DO LIVRO:OLIVIO ABRIU A TORNEIRA COM DEDOS PEGAJOSOS. VIU SEU PRÓPRIO ESPERMA ESCORRENDO PELO RALO E SE SENTIU UM POUCO ARREPENDIDO. DEVIA TER MANDADO PRA ELA UM ENVELOPE PERFUMADO: "FIZ PENSANDO EM VOCÊ". MAS ELE PENSARA COM RAIVA. RAIVA EM CINCO DEDOS FECHADOS , EM VOLTA DO PÊNIS, SACUDINDO SUA AMADA ATÉ DERRAMAR. "ROSALINA, ROSALINA, AINDA CONSIGO PENSAR EM VOCÊ."